segunda-feira, 13 de maio de 2013


REFLEXÕES SOBRE O DIA DAS MÃES


Palestra - Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina

Acadêmica Maria Lucia Victor Barbosa

12/05/2013

 

A maternidade pode ser definida de modo simples e geral, como o amor mais puro, o laço mais profundo, a doação mais perfeita, a integração mais divina representada por mãe e filho.

Além disso, mãe é coisa universal. Não importa a cor, a cultura, a classe social. Em toda parte do mundo quando o filho chora, a mãe acode. Quando está em perigo, ela o protege. E quando o filho chama, ás vezes só pelo prazer de falar “mãe”, ela responde.

Mães são guardiães da vida. Quando a criança ainda está em seu corpo, ela o nutre com seu sangue. Quando nasce o alimenta com seu leite. E pela vida afora mães cuidam de seus filhos, o que é uma forma de estar sempre lhes transmitindo a vida.

Em todas as sociedades, em todos os tempos, a figura materna é uma das mais respeitadas. E sagrada é a figura da mãe em todas as religiões e a terra representa a mãe, fecunda e dadivosa. Tem mãe de deuses. Tem mãe de Deus que os cristãos chamam de Maria.

Na verdade “os antigos viam seu mundo dividido em duas metades: a masculina e a feminina”. “Seus deuses e deusas agiam no sentido de manter um equilíbrio de poderes”. “Yin e Yang”. “Quando o masculino e o feminino estavam equilibrados, havia harmonia no mundo”. “Quando se desequilibravam, estabelecia-se o caos”. “Cada religião se baseava na ordem natural e divina”. “A deusa Vênus e o planeta Vênus eram uma só coisa”. “A deusa tinha um lugar no céu noturno e era conhecida por muitos nomes: Vênus, Estrela Oriental, Ishtar, Astarte, que são conceitos poderosos femininos vinculados à natureza e à Mãe Terra”. (Dan Brown).

Os egípcios antigos buscavam segurança criando técnicas mágicas para auxiliá-los na morte e desenvolviam cultos a deusas e deuses que pudessem ajudá-los. Entre os mais importantes estavam Ísis e Osíris e com relação a eles produziu-se no Egito Antigo um mito e um culto. Ísis, que era esposa e irmã de Osíris, recuperou seu corpo após ter sido este morto por seu maligno irmão Set, tornando-se assim Osíris o deus que ressuscita. A deusa concebeu Hórus, filho de Osíris e, como mãe zelosa, o criou em isolamento para protegê-lo dos perigos. Assim Hórus cresceu forte e tornou-se um deus nacional e ancestral dos faraós, que chamavam a si mesmos de “Hórus vivos”.

Na Grécia Antiga encontramos o par Zeus e Deméter considerada a Mãe Terra. Zeus e Deméter eram pais de Perséfone, que foi raptada por Hades, o senhor do mundo inferior para ser sua esposa. Perséfone permanecia com Hades por quatro meses, passando o resto do ano com sua mãe, e seu retorno ao mundo da superfície simbolizava o retorno da primavera, quando a feliz Deméter dava vida às plantas.

No hinduísmo, a deusa-mãe se manifesta tanto como consorte das principais divindades masculinas hindus quanto de forma genérica que encerra milhares de deusas locais ou devis.

As deusas benignas e frutuosas são lakshmi ou Parvati. Kali e Durga são poderosas e destrutivas. Sarasvati enfatiza o papel de mãe fértil e doadora de vida.

No cristianismo avulta a figura não de uma deusa, mas de uma Mãe de Deus. Aquela que porta várias denominações sendo apenas uma. As orações dedicadas a Maria são dotadas de enorme conteúdo de fé. Entre elas, a “Salve Rainha”. Dita de forma repetitiva ou mecânica não impressiona, mas se prestarmos atenção é impactante.

No tocante a dualidade, que simbolicamente aparece nas deusas hindus, podemos dizer que existem mães de todo jeito. Algumas são suaves e compreensivas, outras impacientes e rigorosas. E qual mãe já não se enraiveceu diante das travessuras dos filhos pequenos ou dos erros dos filhos adultos? Mas da palmada ao xingatório, das implicâncias ao zelo excessivo, tudo é amor de mãe e os filhos compreendem. E que nessa relação especial prevalece uma capacidade infinita de perdão que os homens aprenderam com Deus.

Sim, tem mãe de todo jeito. Tem aquelas que não podendo gerar um filho de sua carne geram um filho do seu coração. São as mães adotivas, as quais não faltam noites sem dormir, preocupações e alegrias, desvelos e carinhos que filho requer.

Tem até mãe que é pai e, porque não, pai que é mãe.

Não dá para omitir que também tem mãe desnaturada que mata, que abandona o filho ou que mesmo o tendo por perto lhe é indiferente. E para o filho não há dor maior do que a indiferença de uma mãe. Os órfãos de pais vivos são muito sofridos e pela vida afora sempre há de lhes faltar alguma coisa.

Aliás, nesse nosso tempo, em que valores são perdidos e outros não repostos, em que reina a mediocridade e a vulgaridade que pese os incríveis avanços da ciência da tecnologia e dos meios de comunicação, transformações sociais de todo tipo estão ocorrendo, sendo que algumas, como não poderiam deixar de ser, acabam atingindo a instituição familiar.

Toda moeda tem dois lados e assim, se as mulheres hoje conquistaram seu espaço profissional, trabalhando fora de casa, por outro lado, as que são mães ficam um largo tempo longe dos filhos, que desde muito cedo vão para creches e escolas. E há mães, que enchem seus filhos de excessivas atividades para não tê-los por perto, porque filho dá trabalho. Muitos aqui devem ter visto um comercial de TV em que uma mãe em um supermercado diz que vai comemorar o fim das férias dos filhos, que a olham com cara de que não compreenderam a tal comemoração.

Não se trata aqui é claro de criticar o progresso das mulheres que estudam e trabalham. Mas as mães modernas têm que repensar um meio de progredir com ser humano e aproveitar os espaços que puderem para conviver o máximo com seus filhos. Isso porque, cabe perguntar se toda a violência que se presencia nas escolas e na sociedade, não reflete a falta de bases familiares mais sólidas. Possivelmente a crise que se presencia hoje é uma crise de falta de amor. E o primeiro amor que o ser humano recebe é o amor de mãe. Ela é a identificação, a primeira noção de mundo.

Também as constantes separações de casais, inevitáveis hoje em dia, trazem consequências nos relacionamentos entre pais, filhos e irmãos.

Para compensar todas as descompensações da modernidade têm as avós, chamadas de mães com açúcar, duplamente mães, duas vezes privilegiadas. Mais maduras, pacientes e experientes, avós muitas vezes consertam através dos netos os erros que cometeram com os filhos e enxergam com maior lucidez o renovar o renovar constante da vida que é seu próprio renovar.

Que nesse Dias das Mães, de todos os tipos, cores, culturas, classes sociais que sejam homenageadas também as mães que perderam seus filhos, sendo esse o sofrimento mais profundo que existe, lembrando, porém, que elas os guardam para sempre no colo de sua memória fazendo-os sempre presentes.

E tem as mães cujos filhos nascem ou vêm a ter problemas de saúde, sendo que é nelas que eles encontram a força e a coragem para ir em frente.

Para terminar, relembremos a poesia de Khalil Gibran:

Seus filhos não são teus filhos,

São filhas e filhos da Vida por si mesma.

Eles vêm através de ti, mas não de ti,

E embora estejam contigo não te pertencem.

 

Poderás dar-lhes teu amor, mas não teus pensamentos,

Pois eles têm seus próprios pensamentos.

Poderás acolher seus corpos, mas não suas almas,

Pois suas almas habitam a mansão do amanhã

Que não podes visitar nem mesmo em sonhos.

Poderás ser como eles, mas não tentes

Torná-los semelhantes a ti,

Pois a vida não para nem se atrasa com o dia passado.

 

Tu és o arco pelo qual teus filhos, como flechas

Vivas são projetados.

O arqueiro vê o alvo no caminho do infinito, e Ele

Te dá sua força para que suas flecha voem céleres

Para longe.

Que tua firmeza pela mão do Arqueiro seja para a

Alegria:

Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama o

Arco que permanece firme.

 

Maria Lucia Victor Barbosa

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