LULA DORMIU DE
TOUCA
Maria
Lucia Victor Barbosa
15/10/2014
Lula
dormiu de touca. A expressão popular significando que alguém foi passado para
trás adéqua-se no momento ao ex-presidente. Isto porque, ele e seus mandarins petistas
foram abalroados pela aliança entre Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (sem
partido).
Eufóricos,
depois que Marina parecia fora do páreo por não ter conseguido as assinatura
necessárias para a criação de seu novo partido, os petistas se refestelaram nas
palavras do propagandista oficial, João Santana, segundo o qual: “Dilma vai
ganhar no primeiro turno em 2014, porque ocorrerá uma antropofagia de anões”.
“Eles vão se comer lá em baixo e ela, sobranceira, vai planar no Olimpo”.
Esta
certeza olímpica do Goebbels lulista tinha razão de ser. Que anão poderia
enfrentar um gigante presidente em busca de reeleição? Tal adversário já está
no Olimpo na medida em que dispõe de tempo ilimitado na mídia, especialmente
nas TVs; recursos financeiros astronômicos, contabilizados ou não; abundância
de “bondades” a serem distribuídas fartamente por todo país; cargos às mãos-cheias
usados como moeda de compra de partidos sequiosos por se darem bem; caridades
oficiais para os pobres e lucros fabulosos para os ricos; aporte de estatais,
ainda que isto as quebre; mobilidade infinita de viagens pagas pelo
contribuinte. Tudo em nome da
governabilidade e não como abuso de poder econômico e financeiro.
Contudo
a vida, notadamente a vida política é dinâmica e dá voltas surpreendentes para
descambar em resultados inusitados. E como no pântano escorregadio da
politicagem a marca é o salve-se quem puder, ora se trai, ora se adere para
alcançar o objetivo fundamental da politica: o poder. Não há escrúpulos nesse
jogo e sempre foi assim em todas as épocas e em todas as sociedades.
Exemplo
do que se comenta foi a constatação de Lourenço de Médici, o Magnífico, na
primavera de 1485. Disse ele: “A afeição e a fidelidade de meus amigos não
duram a partir do momento em que me afasto dezesseis quilômetros de Florença”.
Lula,
o sabido, o mandachuva, dormiu de touca. Não podia imaginar que seus dois
ex-ministros, gente de casa, iriam lhe dar uma rasteira. Aliás, coisa que o
ex-presidente entende muito bem, pois é perito nesse golpe.
Entretanto,
tudo ainda é uma incógnita. Muita água vai correr debaixo da ponte durante este
ano que antecede as eleições. Definições e defecções acontecerão no jogo
político que promete ser pesado, pois o PT usará todas suas táticas
intimidadoras e suas teias de intrigas contra os “anões”.
Para
Eduardo Campos a luta interna é igualmente difícil. Não se definiu ainda quem
será o vice da chapa. Além do mais, Marina e seus seguidores teriam de abrir
suas mentes. Deixar de lado a defesa do desenvolvimento sustentável
fundamentalista que conduz ao empobrecimento sustentado, uma vez que o
agronegócio é que salva o Brasil na balança comercial. Isto não parece
plausível porque o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos representantes do
agronegócio no Congresso e que chegou a ser cogitado para ministro da
Agricultura numa eventual gestão do PSB, já foi vetado por Marina. Mau sinal.
Talvez, ela prefira como método agrícola a coivara.
O
mesmo destino pode acontecer com Jorge Bornhausen e Heráclito Fortes, antagonistas
dos partidos da chamada esquerda, que paradoxalmente vive em conluio com o
grande capital. Para complicar mais, Erundina, ex-petista no momento militando
no PSB, não quer saber do apoio a Alckmin e propõe candidatura própria de seu
partido, ou seja, dela mesma, em que pese ter perdido disputas para a
prefeitura de São Paulo, em 2000 e 2004.
No
páreo presidencial também está Aécio Neves (PSDB-MG), se Serra não atrapalhar.
Infelizmente, os tucanos não souberam ou não quiseram ser oposição e sempre
demonstraram grande encantamento por Lula da Silva. Recorde-se que FHC
sustentou o pelego verborrágico no poder, impedindo seu impeachment e lhe deu
todo suporte de governo que os petistas chamaram de herança maldita.
Em
um ano ocorrem muitas mudanças, mas tudo indica que o embate será entre o
gigante e os anões que, subindo um no ombro do outro crescerão em estatura. Em
termos de conteúdo será mais do mesmo, ou seja, PT contra PT.
Na
verdade nos falta um verdadeiro estadista que defendesse para valer o Estado Democrático
de Direito, a livre concorrência, a atividade comercial com países
desenvolvidos, que combatesse a corrupção e a excessiva burocracia. Esse líder
cuidaria de fato e não através de marketing da Saúde e da Educação para os mais
necessitados. A toda Nação garantiria Segurança, pois para isso foi criado um
poder comum.
Este
estadista de estilo liberal não existe no Brasil. Não se enquadra na
mentalidade do atraso latino-americana. Aguardemos, então, 2014 e, como sempre,
votemos no menos ruim, porque do totalmente ruim que está aí já é tempo de nos
livrarmos.
Maria
Lucia Victor Barbosa é socióloga.
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