RUPTURA INSTITUCIONAL
Maria Lucia Victor Barbosa
19/12/201
As maravilhas da corte são tão
inebriantes, as alegrias da boa vida são tão plenas, as facilidades em se apoderar
da coisa pública são tão corriqueiras, que uma vez lá a classe dirigente inventa
meios de não sair do Olimpo onde se instalou o que pode ser feito através de
eleições ou golpes de Estado.
Assim sendo, o PT não pretende apear do poder tão cedo. Seria
inadmissível para Lula e sua família retroceder à vida mais simples sem os
luxos, privilégios e confortos que a evolução da riqueza obtida de modo
acelerado lhes proporcionou. E Lula, é o poderoso chefão do PT, o garantidor
dos “mandarins” de sua grei para que estes também desfrutem da doce vida de defensores
dos oprimidos. Portanto, deve ser preservado faça o que fizer, porque sem ele o
partido não se sustenta. É bem verdade que Lula tem tido seus revezes, mas
justamente estes que a outros teriam aniquilado o mantém incólume e á espera de
voltar em 2018.
Foi, portanto, inoportuna para Lula e o PT a ideia de impeachment de
Rousseff, única mulher presidente da República e a pior de todos os presidentes
de nossa história. Se bem que foi Lula quem governou o tempo todo como presidente
de fato, recaiu sobre sua criatura a culpa pelo descalabro da economia que
penaliza e envergonha os brasileiros de todas as classes sociais. Tivesse outro
candidato ganho a eleição já teria sido defenestrado pelo PT. Ela, não. E nem
tanto por Rousseff, mas pela preservação do projeto de poder petista, que foi acionado
com força máxima desta vez no STF.
O que se assistiu, então, foi uma ruptura institucional. No dia 16 deste
agitado dezembro o ministro Fachin, defensor dos sem-terra, do Paraguai contra
o Brasil e ardoroso eleitor de Rousseff, deu um show inusitado: defendeu os
procedimentos da Câmara com relação ao rito do impeachment, emergindo como juiz
imparcial e respeitador do outro Poder.
Era como um milagre. Mas milagres não existem na política. No dia
seguinte tudo parecia ser sido combinado para invalidar, de novo, os
procedimentos da Câmara. O que serviu para o impeachment do ex-presidente
Collor não servia para esse. Os votos da comissão não podiam ser secretos, como
os são os do STF em seus procedimentos internos e todo poder foi dado ao Senado,
onde o colaborador, Renan Calheiros, está a postos para salvar, primeiro a si,
depois a governanta.
Desse modo, está encerrada, pelo menos por enquanto, a possibilidade do
impeachment e todas as pedaladas, as irresponsabilidades fiscais, os gastos exorbitantes,
os prejuízos dados a Nação serão todos perdoados ao governo petista.
O STF de tal modo interferiu no Legislativo, trazendo à lembrança
vislumbres bolivarianos, que se Rousseff sempre repetiu que impeachment é
golpe, o golpe se formalizou de outra maneira via Executivo e por intermédio do
Judiciário. Se de agora em diante o STF legisla e impõe o regulamento interno
do Congresso, o Legislativo pode fechar as portas, pois se tornou um penduricalho
inútil na República das Bananas.
Falar democracia no Brasil, portanto, é algo ilusório. Como disse Rui
Barbosa: “A pior ditadura é do Judiciário, porque contra ela não há quem possa
recorrer”. E o judiciário autorizou buscas e apreensões somente em casas e
escritórios de peemedebistas, salvando providencialmente o ajudante Renan
Calheiros. Reclamar para quem?
O Judiciário ao voltar do recesso
em fevereiro poderá afastar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, cujos crimes
principais e mais graves foram: ganhar a eleição da casa derrotando um petista,
tornar o Congresso independente do Executivo, romper com o PT.
Também pode esperar o pior, Michel Temer, o vice-presidente que pregou a
unificação nacional sabendo que a governanta seria incapaz disto, aliás, de
qualquer coisa.
Sentindo-se seguro Calheiros tenta debilitar Temer com a ajuda do
senador Álvaro Dias do PSDB do PT, rachando o PMDB. Grande erro. Uma vez
esgotada a serventia do senador e estando o próprio PMDB fragilizado, o PT
alcançará triunfante sua meta: ser o partido dominante, impondo-se
hegemonicamente sobre os demais. Nesse momento Calheiros poderá enfrentar seus
processos adormecidos no Judiciário, pois nunca ninguém escapou por ter ajudado
o PT. PT faz mal à saúde. PT mata.
Nesta hora em que o novo ministro da fazenda, substituto de Joaquim Levy
que apenas compôs uma fachada para dar credibilidade ao governo e acalmar o
mercado, provavelmente irá reeditar o que levou nossa economia ao caos, feliz e
sorridente dirá Rousseff em cadeia nacional de radio televisão, sentindo-se
imperatriz do Brasil:
“Se é para desgraça de todos e infelicidade geral da Nação, digam ao
povo que fico”.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
www.maluvibar.blogspot.com.br
Prfa. Maria Lucia excelente, como sempre são, texto.
ResponderExcluirReginaldo