quarta-feira, 2 de setembro de 2009

PORTO INSEGURO

MARIA LUCIA VICTOR


Do meu caminho entendo eu.
Meu norte traço a bico de pena
e no vôo das águias
que ao pôr-do-sol descambam
nos azuis do mar ao anoitecer.

Sigo minha estrada de asperezas,
tentando afastar as rochas brutas
das incertezas enquanto pântanos
traiçoeiros me acenam seus perigos.

Só nuvens guiam meu trajeto
e nele me perco de quando em vez,
pois sou humana.

Aqui e ali faço crescer
tímidas violetas
cor de Sexta-feira Santa,
incertas na beleza,
quase mortas,
ainda assim, flores.

Às vezes planto rosas,
que em rubro esplendor
explodem quais sóis fugazes
para depois morrerem
mais como pesares
do que como alegrias desabrochadas
em campos de esperança.

Trago comigo uma bússola
que só eu conheço
e com ela persigo
as veredas do destino,
mas sou traída
pelos sentidos e me afogo
nas areias inclementes do deserto
por onde ando.

Prossigo de qualquer jeito.
Nas trilhas das crenças indefinidas,
tanto posso dar no mar
quanto nas estrelas,
mas não há faróis nem guias.

Peço, então, a não sei qual
divindade benfazeja,
mãos postas diante
do fogo sagrado das paixões,
que me faça chegar por fim
a um porto mesmo que inseguro
onde eu possa crer
ainda que sem certeza.

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