POLÍTICA
DESENCANTADA
Maria
Lucia Victor Barbosa
25/10/2012
A poucos dias do segundo turno da disputa pela
Prefeitura de São Paulo, 19% dos eleitores dizem não ter candidato. O índice é
o maior da história para o período e em se tratando da capital do Estado mais
importante do país esse é um dado significativo a merecer atenção. O que estará
ocorrendo para que 10% dos eleitores declarem que votarão em branco ou anularão
seu voto sendo indecisos outros 9%? E note-se que tal ocorrência poderá aumentar
no dia da eleição levando-se em conta as abstenções.
Alguns
analistas atribuem o fenômeno á imaturidade dos eleitores, mas penso o
contrário. O que está ocorrendo é um desencanto com a política na medida em que
candidatos apresentam propostas monotonamente parecidas, discursos
ultrapassados, promessas não críveis.
Outros
explicam que há um desgaste da polarização PSDB x PT. Mas nesse caso, por que o
candidato Celso Russomanno (PRB) que liderou o primeiro turno não foi para o
segundo? Aliás, partidos políticos não existem no sentido clássico de “homens
que professam a mesma doutrina”, de agremiações dotadas de programas, coerência
ideológica e estrutura nacional. O que temos são clubes de interesses com
alguns donos cujo objetivo é alcançar o poder custe o que custar o que acaba
provocando alianças inimagináveis de ex-inimigos que se tornam momentaneamente
amigos de infância, de adversários ferrenhos que em determinadas circunstâncias
se abraçam e beijam em palanques. E como essa geleia partidária tem aumentado a
cada eleição o povo continua fazendo o que sempre fez: vota no candidato e não
no partido.
Em
São Paulo pesquisas indicam a vitória do candidato petista. Os institutos
erraram feio no primeiro turno, mas caso isto se confirme Haddad vencerá menos
por mérito próprio e mais pelos reiterados erros do PSDB que ao longo do tempo
nunca soube ser oposição ao governo petista. Além do mais, na seara tucana houve
desperdício dos melhores quadros, falta de coesão entre os membros e o apoio
incondicional de Fernando Henrique Cardoso a Lula da Silva.
Note-se
que caso os paulistanos escolham ex-ministro trapalhão irão reeditar
administrações petistas como as de Erundina e Martha Suplicy, mesmo que não
tenham ficado satisfeitos com tais gestões. Afinal, estas senhoras não lograram
ser reeleitas. Mas isto não foi capitalizado pelo PSDB, cujo amadorismo político
contrasta com seus quadros muito superiores ao do PT em termos intelectuais e
profissionais.
Entretanto,
o PT, que resvala para o primitivismo político é o único partido que se
preparou ao longo do tempo para alcançar o poder e lá permanecer como
organização fortemente estruturada, dotada de poder centralizado na figura
populista de Lula da Silva, hierarquizada, disciplinada, impregnada da mística
que nutre militantes que se comportam de forma sectária. O PT, mais que um
partido é uma organização que lembra a estrutura da Igreja Católica ou das
famílias mafiosas.
Mesmo
assim, o PT não é onipotente, não venceu em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro,
em Porto Alegre, em Recife. E ainda há indefinições no segundo turno em cidades
e capitais onde o PT se empenha na vitória sempre em busca do seu projeto
hegemônico continuado.
No
panorama de desencantamento não o novo, mas algumas novidades afloram. É o caso
dos pretendentes à eleição presidencial, o senador Aécio Neves e o governador
Eduardo Campos, sendo que o partido deste, o PSB, foi o que mais cresceu em
número de votos nas nove maiores regiões metropolitanas do país na comparação
do primeiro turno deste ano com o de 2008: um avanço de 141%.
Contudo,
o fato mais importante que se assistiu ao longo de quase três meses foi o
julgamento do mensalão, que desmentiu Lula da Silva ao provar que o maior crime
de corrupção já perpetrado em um governo existiu. E, em que pese a atuação dos
ministros Lewandowski e Toffoli que mais pareciam advogados de defesa dos réus do
PT, prevaleceu a linha da denúncia do procurador-geral da República, Roberto
Gurgel, endossada brilhantemente pelo relator do processo, ministro Joaquim
Barbosa, sendo que a maioria os ministros concluíram que houve uso de dinheiro
público para pagar parlamentares, que houve empréstimos fraudulentos para
abastecer esses pagamentos, que o dinheiro serviu para comprar apoio político e
que tudo foi comandado por José Dirceu num esquema de quadrilha.
Se
a guerra contra a corrupção continuará uma batalha importantíssima foi pela
primeira vez ganha no país da impunidade. Venceu a independência do Poder Judiciário,
o Estado Democrático de Direito, o Brasil e o julgamento foi um alerta para
bandidos de terno e gravata. Como disse o ministro Celso de Mello: “o mais
importante é o alto poder pedagógico do processo, cuja essência não está na
distinção entre técnica e política, mas em seu caráter moral”. “A peça
fundamental em exame é a ética dos governos”. Seria bom que os políticos
aprendessem a lição.
Maria
Lucia Victor Barbosa é socióloga
@maluvi
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