QUEM GOVERNA?
Maria
Lucia Victor Barbosa
Quem
governa? Aqueles em que votamos? Que elegemos para dirigir os destinos do País
e, portanto, o nosso? Parece que não é tão simples assim.
Dilma
Rousseff ganhou a eleição presidencial, contudo, é o ex-presidente Lula da
Silva que em larga medida ainda governa.
Mesmo porque, volta e meia ele se reúne com sua afilhada para orientá-la e
teve o cuidado de indicar a maioria dos ministros que compuseram o ministério
de Rousseff. Não deu certo porque muitos ministros caíram, não porque foram
faxinados pela presidente, mas porque se tornou inviável mantê-los depois da
enxurrada de provas de corrupção que circularam pela imprensa. Não é à-toa que
Lula sempre atacou a mídia e o PT sonha há tempos em acabar com a liberdade de
expressão, algo recentemente ostentado claramente pelo presidente do partido,
Rui Falcão.
Lula
da Silva manda tanto que tem maquinado acertos eleitorais e, contrariando a
presidente Rousseff que deve ter lá seus motivos para não ter querido a CPI do
Cachoeira, ordenou que a Comissão fosse criada. Seu intuito segundo jornais e
revistas seria o de salvar companheiros envolvidos no escândalo do “mensalão”,
especialmente o chamado chefe da quadrilha, José Dirceu, desmoralizar o PSDB
por conta do suposto envolvimento do governador Marconi Perillo, de Goiás, com
o bicheiro, desmerecer o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que
denunciou os quadrilheiros do esquema e, de quebra, conseguir ganhar em São
Paulo elegendo o desastrado ex-ministro da Educação, Fernando Haddad.
Entretanto,
se Lula é tido como um gênio da política a jogada da CPI do Cachoeira não está
dando certo. A ida de Carlos Augusto de Almeida Ramos ao Congresso foi
desmoralizante. Afinal, os parlamentares sabiam de antemão que Cachoeira
ficaria em silêncio por direito constitucional e por orientação de seu
advogado, Márcio Thomaz Bastos que, curiosamente, foi ministro da Justiça de
Lula da Silva. Contudo, senadores e deputados aproveitaram a oportunidade para
fazer da pantomima seu palanque com performances de indignação que não
existiram, por exemplo, diante do silêncio de Delúbio Soares e Silvinho Land
Rover em outra CPI que, como as demais, resultou em nada.
A
senadora Kátia Abreu, outrora DEM agora do Partido do Kassab, portanto, da base
aliada do governo, foi cortante: “Isso é ridículo. Estamos aqui perguntando
para uma múmia. Não vou ficar aqui dando ouro para um bandido. Não vamos fazer
papel de bobo para um chefe de quadrilha com cara de cínico”.
O
deputado do PR-DF, Ronaldo da Fonseca, saiu-se com essa: “O senhor está com
vontade de responder, seu Cachoeira, mas não responda agora não”.
A
senadora bem que poderia ter pedido o encerramento não apenas da sessão, mas da
grotesca CPI. Afinal, se continuarem blindando a empreiteira Delta e seu dono
Fernando Cavendish, além de governadores e demais políticos envolvidos, a CPI
não terá a menor serventia. Culpem, então, a senhora que serve cafezinho na Delta,
o office-boy da Veja e apressem o que já se sabe irá acontecer: o impeachment
do senador Demóstenes. Feito isso, desmontem o picadeiro.
Quanto
ao deputado Ronaldo, foi impróprio para maiorais. Imagine-se se Cachoeira
resolvesse falar. Não ia sobrar muito gente.
Na
verdade, a CPI ficou desmoralizada quando o deputado petista, Cândido
Vaccarezza, enviou um SMS para o governador peemedebista do Rio de Janeiro,
Sérgio Cabral, grande amigo de Lula da Silva e de Fernando Cavendish, com os
seguintes dizeres na mais pura versão da “Flor do Lácio”: “A relação com o PMDB
vai azedar na CPI. Mas não se preocupe. Você é nosso e nós somos teu”.
Aqui
se volta à pergunta inicial: Quem governa? Além daqueles que elegemos para
cargos do Executivo e do Legislativo, tudo indica que fomos ou somos governados
também por Carlinhos Cachoeira tal seu poder de influência. Ele possuía ou possui
uma impressionante rede de relações no Judiciário, na Polícia, no Ministério
Público, no Executivo, no Legislativo, no mundo dos negócios. Cavendish, dono
da empreiteira mais agraciada com obras pelo governo federal, pelo governo do
Rio de Janeiro e de outros Estados, foi chamado de “sócio oculto” do
contraventor. Além disso, Cachoeira nomeava gente, influía nas emendas ao
Orçamento da União. Se isso não é governar não sei mais o que é.
Esse
imenso poder paralelo não impede o imperial mando de Lula da Silva. O processo
do “mensalão” que se arrasta há quase sete anos corre o risco de não dar em
nada se Lula insistir na tese de que o “mensalão” não existe. Se isso acontecer
será a pá de cal no Estado Democrático de Direito e o PT continuará a reinar
junto com os que também mandam no País: os Cachoeiras e o poder paralelo dos
traficantes e de outros tipos de bandidos que afrontam impunemente a população.
Afinal, sem o cumprimento das leis um país não é civilizado. Prevalece o
“estado de natureza” de que falou Hobbes, “onde não há teu nem meu, mas o que
eu puder tomar, pelo tempo que puder conservar”.
Maria
Lucia Victor Barbosa é socióloga
mlucia@sercomtel.com.br
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