ASCENSÃO
E QUEDA
Maria
Lucia Victor Barbosa
08/09/2012
Para simularem uma espécie de ideologia de
esquerda e protegerem seu “pobre operário”, Lula da Silva, que há muito não é
pobre nem operário, ardilosamente os donos do poder inventaram que elite é aquela
entidade suja e rancorosa composta por ricos impiedosos, que aliados a uma
imprensa a serviço de monstruosos interesses têm como objetivo destruir o
magnânimo pai da pátria e seu partido. Enfim, uma atraente versão tropical e
populista da luta de classes, algo que deve ter feito Karl Marx tremer na
tumba.
Nos
estudos clássicos de Sociologia o termo elite ou escol tem sentido bem
diferente como os vistos nas primeiras abordagens elaboradas pelos chamados
“maquiavelistas”, Vilfredo Pareto, Gaetano Mosca, Robert Michels e Georges
Sorel. Em vez da luta de classes eles consideravam que a história das
sociedades é a luta das elites pelo poder.
Pareto
(1848-1923) entendia elite de modo positivo, pois fariam parte do escol pessoas
de qualidades excepcionais tanto pelo seu trabalho quanto por seus dotes
naturais e, de forma realista afirmou: “Todo escol que não se dispõe a travar
batalha para defender suas posições está em plena decadência; só lhe resta
deixar o lugar a outra elite que tenha as qualidades viris que lhe faltam”.
Gaetano Mosca (1858-1941) preferiu o termo
classe dirigente ou dominante em vez de elite para designar a distinção entre
dirigentes e dirigidos.
Sem
aprofundar a discussão sobre tais teorias lancemos um olhar sobre o quadro das
eleições municipais lembrando que, pelo fato do PT se manter na presidência da
República há quase 10 anos se pode dizer que é a classe dirigente, dominante ou
elite sem, é claro, as boas qualidades de que falou Pareto.
Posto
isso, recorde-se que na sua longa trajetória para lograr Lula lá os petistas
desenvolveram certas táticas que continuam usando, tais como: Jamais aceitar críticas
por menores que sejam e reagir às mesmas com maior agressividade possível;
encarar o adversário como inimigo; invés de argumentar desqualificar quem não
reza por sua cartilha como incompetente, rancoroso, invejoso, membro da
famigerada e suja elite; usar a sedutora e comovente imagem de vitima
transformando suas vítimas em seus algozes; distorcer ao máximo os fatos; usar
de meios baixos para atacar adversários como, por exemplo, falsos dossiês ou
compra de apoios.
Essas
táticas foram usadas à exaustão para resguardar a figura de Lula tornada excelsa.
Para ele só o elogio, qualquer crítica é considerada como grave preconceito.
Então, amparado pelos companheiros e pelo marketing o guardião do poder petista
exerceu plenamente o paternalismo pedagógico e a alienação das massas. Ele foi
o “líder-preceptor que precede ao nascimento do Estado-Nação”. Por isso sempre
dizia com prazer: “nunca antes nesse país”.
Antes
de chegar ao cargo mais alto da República o PT soube ser oposição. Durante os
oito anos de mandato de FHC petistas gritaram: “fora Fernando Henrique”. Ao
mesmo tempo, tudo que FHC fazia era estridentemente criticado.
Apesar
disso, quando Lula finalmente alcançou a presidência da República, Fernando
Henrique inventou a “transição”, ou seja, colocou a disposição de Lula seus
melhores técnicos para que ensinassem aos neófitos do PT como se governa.
Então,
o PT copiou as politicas econômicas e sociais de FHC, mas sempre as criticando
como herança maldita. Mesmo assim o PSDB foi o grande auxiliar de Lula, muito
mais do que parte do PT que cindiu e formou o PSOL e mais ainda do que a base
aliada. E quando Lula poderia ter sofrido o impeachment à época da CPI dos
Correios, FHC sustentou o amigo no poder. Aliás, com raras exceções, os tucanos
sempre demonstraram um imenso encantamento por Lula e nunca souberam ser
oposição enquanto o PT, de modo implacável, atacava como ainda ataca Fernando
Henrique e sua herança maldita.
O
resultado é o que se vê no momento em São Paulo: José Serra em queda e Celso
Russomanno subindo nas pesquisas de intenção de voto.
Na
verdade, o PSDB não soube ocupar seu lugar como oposição. Deixou um vácuo que
vai sendo ocupado por outro ator político. O PT, que nunca brilhou muito na
capital paulista entrou em rota de desgaste com o julgamento do mensalão no
STF, a doença de Lula, a emergência de outras lideranças políticas, a
insatisfação do funcionalismo público e dos ditos movimentos sociais com a
presidente Rousseff.
Ascenção
e queda são ciclos inevitáveis na vida pessoal e na dinâmica das sociedades. No
Brasil algumas mudanças estão acontecendo. Uma coisa boa e
que trás
um raio de esperança é o julgamento do mensalão a demonstrar a independência do
Poder Judiciário e, portanto, o resguardo da democracia.
No
mais, como disse Pareto, perdem os que não se dispõe a travar batalha para
defender suas posições. Isto é bem mais importante do que apresentar renovação
de candidatos. Que o PSDB aprenda a lição se quiser chegar de novo à
presidência da República.
Maria
Lucia Victor Barbosa é socióloga.
@maluvi
Quer dizer então que o FHC ensinou o Lula a governar? Pois me diga como é entregar uma economia com o dólar a 4,00R$ e taxas de juros selic em 45%? A diferença está sentindo hoje! Não se pode comparar o gov. FHC com Lula, mas se quiser vamos discutir. Pois me fale da elite do PSDB que está no poder em SP há quase 20 vinte anos. Uma elite com qualidade ou sem qualidade, como dizia Pareto?
ResponderExcluirUm dos problemas da elite "positiva" do Brasil é o fato de achar um absurdo um ex-pobre operário ser chamado pelo homem mais poderoso do mundo de " O CARA". Também ver pobres viajando de avião, possuindo carros novos e casa própria. Ver o comando da Defesa do país "bater" continência a uma ex-guerrilheira. Detalhe: Não sou de nenhum partido político,e sequer votei em Lula e Dilma. Mas contra fatos não há argumentos. E o Gov. de Lula foi infinitamente superior ao de FHC, e isto é um FATO!
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