domingo, 9 de setembro de 2012


ASCENSÃO E QUEDA


Maria Lucia Victor Barbosa

08/09/2012

 

 Para simularem uma espécie de ideologia de esquerda e protegerem seu “pobre operário”, Lula da Silva, que há muito não é pobre nem operário, ardilosamente os donos do poder inventaram que elite é aquela entidade suja e rancorosa composta por ricos impiedosos, que aliados a uma imprensa a serviço de monstruosos interesses têm como objetivo destruir o magnânimo pai da pátria e seu partido. Enfim, uma atraente versão tropical e populista da luta de classes, algo que deve ter feito Karl Marx tremer na tumba.

Nos estudos clássicos de Sociologia o termo elite ou escol tem sentido bem diferente como os vistos nas primeiras abordagens elaboradas pelos chamados “maquiavelistas”, Vilfredo Pareto, Gaetano Mosca, Robert Michels e Georges Sorel. Em vez da luta de classes eles consideravam que a história das sociedades é a luta das elites pelo poder.

Pareto (1848-1923) entendia elite de modo positivo, pois fariam parte do escol pessoas de qualidades excepcionais tanto pelo seu trabalho quanto por seus dotes naturais e, de forma realista afirmou: “Todo escol que não se dispõe a travar batalha para defender suas posições está em plena decadência; só lhe resta deixar o lugar a outra elite que tenha as qualidades viris que lhe faltam”.

 Gaetano Mosca (1858-1941) preferiu o termo classe dirigente ou dominante em vez de elite para designar a distinção entre dirigentes e dirigidos.

Sem aprofundar a discussão sobre tais teorias lancemos um olhar sobre o quadro das eleições municipais lembrando que, pelo fato do PT se manter na presidência da República há quase 10 anos se pode dizer que é a classe dirigente, dominante ou elite sem, é claro, as boas qualidades de que falou Pareto.

Posto isso, recorde-se que na sua longa trajetória para lograr Lula lá os petistas desenvolveram certas táticas que continuam usando, tais como: Jamais aceitar críticas por menores que sejam e reagir às mesmas com maior agressividade possível; encarar o adversário como inimigo; invés de argumentar desqualificar quem não reza por sua cartilha como incompetente, rancoroso, invejoso, membro da famigerada e suja elite; usar a sedutora e comovente imagem de vitima transformando suas vítimas em seus algozes; distorcer ao máximo os fatos; usar de meios baixos para atacar adversários como, por exemplo, falsos dossiês ou compra de apoios.

Essas táticas foram usadas à exaustão para resguardar a figura de Lula tornada excelsa. Para ele só o elogio, qualquer crítica é considerada como grave preconceito. Então, amparado pelos companheiros e pelo marketing o guardião do poder petista exerceu plenamente o paternalismo pedagógico e a alienação das massas. Ele foi o “líder-preceptor que precede ao nascimento do Estado-Nação”. Por isso sempre dizia com prazer: “nunca antes nesse país”.

Antes de chegar ao cargo mais alto da República o PT soube ser oposição. Durante os oito anos de mandato de FHC petistas gritaram: “fora Fernando Henrique”. Ao mesmo tempo, tudo que FHC fazia era estridentemente criticado.

Apesar disso, quando Lula finalmente alcançou a presidência da República, Fernando Henrique inventou a “transição”, ou seja, colocou a disposição de Lula seus melhores técnicos para que ensinassem aos neófitos do PT como se governa.

Então, o PT copiou as politicas econômicas e sociais de FHC, mas sempre as criticando como herança maldita. Mesmo assim o PSDB foi o grande auxiliar de Lula, muito mais do que parte do PT que cindiu e formou o PSOL e mais ainda do que a base aliada. E quando Lula poderia ter sofrido o impeachment à época da CPI dos Correios, FHC sustentou o amigo no poder. Aliás, com raras exceções, os tucanos sempre demonstraram um imenso encantamento por Lula e nunca souberam ser oposição enquanto o PT, de modo implacável, atacava como ainda ataca Fernando Henrique e sua herança maldita.

O resultado é o que se vê no momento em São Paulo: José Serra em queda e Celso Russomanno subindo nas pesquisas de intenção de voto.

Na verdade, o PSDB não soube ocupar seu lugar como oposição. Deixou um vácuo que vai sendo ocupado por outro ator político. O PT, que nunca brilhou muito na capital paulista entrou em rota de desgaste com o julgamento do mensalão no STF, a doença de Lula, a emergência de outras lideranças políticas, a insatisfação do funcionalismo público e dos ditos movimentos sociais com a presidente Rousseff.

Ascenção e queda são ciclos inevitáveis na vida pessoal e na dinâmica das sociedades. No Brasil algumas mudanças estão acontecendo. Uma coisa boa e que trás um raio de esperança é o julgamento do mensalão a demonstrar a independência do Poder Judiciário e, portanto, o resguardo da democracia.

No mais, como disse Pareto, perdem os que não se dispõe a travar batalha para defender suas posições. Isto é bem mais importante do que apresentar renovação de candidatos. Que o PSDB aprenda a lição se quiser chegar de novo à presidência da República.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.


@maluvi

2 comentários:

  1. Quer dizer então que o FHC ensinou o Lula a governar? Pois me diga como é entregar uma economia com o dólar a 4,00R$ e taxas de juros selic em 45%? A diferença está sentindo hoje! Não se pode comparar o gov. FHC com Lula, mas se quiser vamos discutir. Pois me fale da elite do PSDB que está no poder em SP há quase 20 vinte anos. Uma elite com qualidade ou sem qualidade, como dizia Pareto?

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  2. Um dos problemas da elite "positiva" do Brasil é o fato de achar um absurdo um ex-pobre operário ser chamado pelo homem mais poderoso do mundo de " O CARA". Também ver pobres viajando de avião, possuindo carros novos e casa própria. Ver o comando da Defesa do país "bater" continência a uma ex-guerrilheira. Detalhe: Não sou de nenhum partido político,e sequer votei em Lula e Dilma. Mas contra fatos não há argumentos. E o Gov. de Lula foi infinitamente superior ao de FHC, e isto é um FATO!

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