AVALANCHE DE MELADO
Maria
Lucia Victor Barbosa
12/01/2016
Nos
noticiários as TVs apresentam amenidades,
acidentes, notícias do exterior, poucas notas políticas. Tudo repetido à
exaustão. O Brasil de férias quase não toma conhecimento dos recorrentes assaltos
à coisa pública, que vão sendo descortinados por delatores loucos para salvar a
pele. Eles vendaram a alma ao “diabo” do PT e agora estão pagando com juros e
correção monetária.
Enquanto
isto o melado com o qual o PT se lambuzou continua a percorrer distâncias e vai
envolvendo figuras do alto escalão governamental. Parece a lama sinistra que se
abateu sobre o distrito de Mariana soterrando tudo, matando gente, invadindo
lonjuras, contaminando rios, confiscando o azul dos mares. Foi a maior catástrofe
ambiental já havida no País, assim como a avalanche de melado da corrupção da
era PT não tem comparação com as roubalheiras do passado, tal seu grau de
institucionalização e volume.
Interessante
é que o autor da frase, “o PT se lambuzou”, ministro-chefe da Casa Civil,
Jaques Wagner, agora se encontra lambuzado, sendo que outros ministros comeram
também bastante do melado. Pelo menos é o que se lê no O Estado de S. Paulo, de
8 de janeiro de 2016:
“Lava
Jato – Além de Jaques Wagner, Edinho Silva (Comunicação) e Henrique Alves
(Turismo) são citados em diálogos do empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS,
condenado a 16 anos de prisão”.
Também é
mencionado no respectivo jornal o atual presidente da Petrobras, Aldemir
Bendine. Ao mesmo tempo, o notório Cerveró, ex-diretor da Petrobras, menciona
Jaques Wagner em algumas grossas, como diria Lula da Silva, maracutaias.
Nada
acontece com o presidente de fato, que depôs pela quarta vez na Polícia Federal
sobre uma generosa medida provisória que beneficiou um de seus filhos. E
enquanto seus outrora “amigos íntimos”, aqueles que privaram de sua intimidade,
que festejaram juntos em magníficos banquetes, que se divertiram com Brahma em
suntuosas viagens estão vendo o sol nascer quadrado, “o pobre operário” segue
indiferente à desdita dos companheiros de partido e “das zelites”. Não sei se
esse traço de personalidade é próprio da humanidade como um todo ou mais
acentuado em certos indivíduos sem caráter.
Em todo
caso, o espertíssimo ex-presidente da República, grande beneficiado da
locupletação geral não sabe de nada, não viu nada e, se duvidar, não conhece
nenhum imbecil que caiu na esparrela, conforme taxou o senador petista e ora detento,
Delcídio Amaral.
Lula da
Silva foge dos “imbecis” como o diabo da cruz. Eles podem contaminar seu
projeto de poder. Afogá-lo no pote de melado. No momento vislumbra-se apenas um
fiozinho de melado a lhe escorrer pela barba. Foi posto por Cerveró que o
mencionou quase que de passagem, a lembrar de que até a sorte acaba um dia
nesse mundo de finitudes. Nada, porém, de previsões açodadas porque Brahma ou
Boi até agora escapou. Ele conta com proteções internas e possivelmente
externas, como as do Foro de São Paulo.
Há de se
convir que o PT ainda detém força suficiente para evitar males piores. Exemplo
disto foi o anteparo do STF que evitou por duas vezes o impeachment de Rousseff,
com evidente e indevida intromissão no Legislativo. Ela ficará por mais três
anos sem nenhuma condição de governabilidade, fazendo discursos que são peças
de propaganda enganosa a se desmanchar na primeira ida das donas de casa ao
supermercado. Enquanto isso o País afundará cada vez mais na recessão e na sua
insignificância de potência regional sul-americana, a ser suplantada pela
Argentina sob a presidência de Mauricio Macri.
Seguem-se
outros exemplos do poder petista, como aqueles que tentam torpedear a extraordinária
e inédita Operação Lava-Jato. É o caso do chamado desmonte da PF através do
corte de R$ 133 milhões no seu orçamento. Foi votado no Congresso, mas tem evidente
dedo do Executivo. Outro exemplo foi o da medida provisória assinada por
Rousseff, que altera as bases da Lei Anticorrupção. Desse modo, se aprovada no
Congresso empresas corruptas poderão fazer acordos de leniência com a CGU sem
precisar colaborar com as investigações nem prestar contas ao TCU. Também
poderão fechar contratos com o governo e receber verbas públicas. Não faltam
também investidas do ministério da Justiça contra o competente e ilibado juiz
Sérgio Moro.
Sem
dúvida, o PT resiste diante do mar de melado que o submerge. Seu grande teste,
porém, será nas eleições municipais desse ano. Se o povo achar que são lícitas
as doçuras corruptas do poder, enquanto amarga a inflação, o desemprego, a
inadimplência, ótimo para os petistas. Se não Lula terá, em 2018, que pensar em
outro plano B.
No
passado escolheu José Dirceu, depois Antonio Palocci e deu no que deu. Agora
Jaques Wagner era (ou é?) o plano B, mas comeu muito melado. Dilma, a
“faxineira”, vai mantê-lo no cargo? Certamente, mas nem tomando banho de ervas
e sal grosso, Jaques Wagner, codinome compositor, se livrará do melado.
Maria
Lucia Victor Barbosa é socióloga.